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Arquivo para fevereiro, 2024

O segredo mais bem guardado dos CEOs da tecnologia  

Tecnologia abusiva 1,2

“Peço desculpas por tudo que vocês passaram. Ninguém deveria passar pelas coisas que suas famílias sofreram e é por isso que investimos tanto e continuaremos com esforços em toda a indústria para garantir que ninguém passe pelas coisas que suas famílias tiveram de sofrer”, disse recentemente Mark Zuckerberg, presidente-executivo da Meta, dona do Facebook e Instagram, às famílias presentes a uma audiência no Senado dos EUA que avaliava o impacto das redes sociais em crianças e adolescentes.

Como se sabe, grandes empresas de tecnologia são acusadas de não fazer o suficiente em suas plataformas para proteger as crianças de riscos que incluem o bullying e a exploração sexual on-line; as postagens de ódio, de incitação ao suicídio e de outros conteúdos capazes de afetar a integridade física e a saúde mental dos mais novos.

Se isso já não fosse grave o suficiente, fica cada vez mais claro que a utilização de dispositivos digitais durante muitas horas por dia, e começando cada vez mais cedo, tem prejudicado a evolução da capacidade cognitiva dos pequenos. Como explica o neurocientista francês Michel Desmurget, autor de “A Fábrica de Cretinos Digitais”, livro que mostra de forma contundente como os dispositivos digitais estão impactando o desenvolvimento neural de crianças e jovens, já é possível observar os efeitos danosos dessa interação pela análise dos testes de QI.

“É verdade que o QI é fortemente afetado por fatores como o sistema de saúde, o sistema escolar, a nutrição, etc.”, ressalvou Desmurget, em entrevista concedida à BBC News Mundo em 2020, “mas se considerarmos os países onde os fatores socioeconômicos têm sido bastante estáveis por décadas, os ‘nativos digitais’ são os primeiros filhos a ter QI inferior ao dos pais. É uma tendência que foi documentada na Noruega, Dinamarca, Finlândia, Holanda, França etc.”

Telas, livros e a nutrição necessária

Cientes desses descaminhos, responsáveis pela educação de países de reconhecida expertise na área já redefinem os rumos a seguir. É o caso da Suécia, que conta com uma das mais avançadas redes de ensino da Europa. Após 15 anos migrando progressivamente do material didático impresso para o digital, o governo sueco voltou atrás e investiu no ano passado o equivalente a R$ 315 milhões em livros, com previsão de um reforço de mais 44 milhões de euros (cerca de R$ 220 milhões) neste e no próximo ano para que os livros em papel continuem voltando às salas de aula.

Como avaliam os especialistas, quem lê um texto impresso, consegue compreendê-lo melhor do que quem lê o mesmo texto no computador. Dizem também que as atividades relacionadas à leitura, à escrita, à interpretação de textos, à música, à arte, aos esportes têm um poder de estruturação e nutrição para o cérebro muito maior do que as telas.

A diferença de resultados se dá, entre outros fatores, conforme observou Desmurget, porque, ao se colocar uma tela nas mãos de uma criança ou adolescente, “quase sempre prevalecem os usos recreativos mais empobrecedores. Isso inclui, em ordem de importância: televisão, que continua sendo a tela número um de todas as idades (filmes, séries, clipes etc.); depois, os videogames (principalmente de ação e violentos) e, finalmente, na adolescência, um frenesi de autoexposição inútil nas redes sociais”.

Resistência e desinformação

Por essas e outras, causa espanto que o tema não seja mais divulgado e discutido pela sociedade e, quando isso ocorre, não se dê ao fato a importância e a urgência que ele tem. Ao contrário, o que se vê é muita resistência à imposição de qualquer regulação às redes, como aconteceu em 2023 com o Projeto de Lei 2.630/2020, o “PL das Fake News”, que foi retirado de pauta no Congresso Nacional por falta de acordo para apreciação do texto, e não se sabe quando será reapresentado para votação.

Como aqueles que já defenderam o tabaco, no passado, e outros que refutam o aquecimento global ainda hoje, o lobby da indústria digital, que foi decisivo para o impasse a que se chegou no caso da regulação das redes, conta com a complacência de representantes da intelligentsia mundial. São cientistas e jornalistas que militam na mídia em geral, mas especialmente nas redes sociais, exaltando os aspectos positivos da tecnologia e minimizando, ou nem colocando em discussão, seus efeitos colaterais danosos.

Assim, mal-informada ou informada de forma equivocada, a sociedade acaba deixando de saber e discutir fatos e informações importantes para sua tomada de decisão em relação ao uso mais adequado da tecnologia, seja em casa, na escola ou na vida.

Sabem muito, mas revelam pouco

Os educadores Joe Clement e Matt Miles, coautores do livro “Como o uso excessivo da tecnologia está tornando nossos filhos mais burros”, contam que dois dos maiores ícones da área, Steve Jobs (1955-2011) e Bill Gates, sempre foram muito conscientes do potencial de suas criações, para o bem e para o mal.

Bill Gates, por exemplo, criador da Microsoft, revelou em 2017 como tratava do assunto com os filhos: “Não temos telefones na mesa quando estamos comendo e só lhes demos celulares quando completaram 14 anos.” Já Steve Jobs, fundador da Apple, ao ser questionado pelo jornalista Nick Bilton, do New York Times, logo após o lançamento do iPAD, se seus filhos haviam amado o novo produto, respondeu: “Eles nunca usaram, nós limitamos a quantidade de tecnologia que nossos filhos usam em casa.”

Depois dessa surpreendente revelação, Nick entrevistou diversos outros executivos que também seguiam a mesma orientação de não deixar os filhos usarem a tecnologia sem limites ou supervisão. Um deles é Chris Anderson, ex-editor da revista Wired, considerada a “bíblia” da cultura digital, e agora CEO da 3D Robotics, uma fabricante de drones.

Com cinco filhos, de 6 a 17 anos, Anderson instituiu prazos e controle familiar em todos os dispositivos em sua casa. “Meus filhos acusam a mim e a minha esposa de sermos fascistas e excessivamente preocupados com tecnologia”, explicou ao jornalista, “e eles dizem que nenhum de seus amigos possui as mesmas regras”. A razão disso, conforme argumentou o executivo, “é porque temos visto os perigos da tecnologia em primeira mão. Eu já vi isso em mim, não quero ver acontecendo com meus filhos”.

Outro expoente da tecnologia, Pierre Laurent, engenheiro de computação que trabalhou na Microsoft, na Intel e em várias startups, revelou ao jornal El País, em 2019, uma mudança que ocorrera na “linha de produção” da indústria digital, da qual havia sido testemunha em sua vida profissional e que considerava perigosíssima: “Qualquer um que faz um aplicativo quer que seja fácil de usar. É assim desde o começo. Mas antes queríamos que o usuário ficasse feliz em comprar o produto. Agora, com smartphones e tablets, o modelo de negócios é diferente: o produto é gratuito, mas são coletados dados e colocados anúncios. Portanto, o objetivo hoje é que o usuário passe mais tempo no aplicativo, a fim de coletarem mais dados ou colocarem mais anúncios. Ou seja, a razão de ser do aplicativo é que o usuário gaste o máximo de tempo possível diante da tela. Eles são projetados para isso.”

No Vale do Silício, a escola é technology free 

Na entrevista que fez a Jobs, Nick Bolton não chegou a perguntar como era seu cotidiano familiar sem tecnologia. Por isso, recorreu a Walter Isaacson, que escreveu a biografia “Steve Jobs” e, por isso, havia passado muito tempo na casa do empresário, convivendo com a família. O biógrafo contou, então, que “todas as noites, Steve fazia questão de jantar na grande mesa da cozinha, discutir livros e história e uma variedade de coisas; ninguém nunca usou um iPad ou computador ali”, completou. “As crianças não pareciam viciadas nos dispositivos de forma alguma”, disse ainda o escritor a Nick.

Não bastassem todos esses cuidados, os CEOs de ontem e de hoje fazem questão de colocar seus filhos em escolas que valorizam e cultuam os métodos tradicionais de ensino. É o caso, por exemplo, da Waldorf of Peninsula, uma escola particular situada na Califórnia, em pleno Vale do Silício, frequentada por filhos de executivos das mais poderosas big techs do planeta.

Enquanto escolas do mundo todo se esforçam para introduzir computadores, tablets, quadros interativos e outras novidades tecnológicas em sua rotina de ensino, na Waldorf as telas só entram nas salas de aula quando os alunos chegam ao secundário, o equivalente ao nosso ensino médio. Mais do que tecnologia, a preocupação da Waldorf, conforme consta em sua apresentação oficial, é “despertar as crianças para a sua própria individualidade e desenvolver suas elevadas capacidades de pensar, sentir e querer, criando assim um mundo verdadeiramente humano por meio de uma educação que seja fonte de mudança social”.

Da revelação ao questionamento: o risco compensa? 

Pierre Laurent, que também presidiu o conselho da Waldorf, confirmou na entrevista ao El País o acerto desse direcionamento da escola, argumentando que “o que desencadeia o aprendizado é a emoção e são os seres humanos que produzem essa emoção, não as máquinas. Criatividade é algo essencialmente humano. Se você coloca uma tela diante de uma criança pequena, você limita suas habilidades motoras, sua tendência a se expandir, sua capacidade de concentração”. Contudo, avalia que “não há muitas certezas em tudo isso; teremos as respostas daqui a 15 anos, quando essas crianças forem adultas. Mas”, pondera Laurent, “queremos correr o risco?”, ou seja, será que podemos nos dar ao luxo de esperar para ver o que vai acontecer?

A depender de Desmurget, a resposta é um categórico não, pois “simplesmente não há desculpa para o que estamos fazendo com nossos filhos e como estamos colocando em risco seu futuro e desenvolvimento”. Surpreendentemente, como foi revelado, a depender das elites do Vale do Silício, a resposta também é não, pelo menos para as crianças e adolescentes da família.

Aqueles que criam, produzem, dominam e, por isso mesmo, melhor entendem a tecnologia dos celulares e dos aplicativos, querem os filhos afastados dela. Sabem que os benefícios das telas na educação infantil são limitados, enquanto os perigos são muitos, sendo o maior deles, de acordo com crescentes evidências, seu poder viciante.

E os pais, os educadores, os políticos, que representam a sociedade em suas demandas mais prementes, como vamos responder? É buscar regulação, impor limites e controles, reavaliar os rumos do ensino… Ou podemos esperar e ver o que acontece, considerando que desculpas, como as de Zuckerberg, já são suficientes.

Sexteto Fantástico 5

Carnaval!

Tear 12

Folia na democracia

racial, etária, social;

inocência

no atrevimento;

um lírio no pântano;

um ir e vir

fantasiado

ou quase nu;

um chegar 

no bloco, na rua

na avenida

onde rola o samba

enredo, alegoria;

um pular

em uníssono;

um vergar sob

o peso da farra;

um desfilar

pulsando

cantando

vibrando

como se amanhã

não fosse nascer

um outro dia.

 

Poesia de Ana Setti Rosa

Está logo ali…

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Dizem que felicidade é ilusão,

impossível ser feliz na dura

realidade da vida.

Mesmo assim, tentamos.

É a satisfação a conta-gotas,

os lampejos de contentamento,

as doses, ainda que mínimas,

de bem-estar, boa fortuna,

sucesso, êxito. Pior seria

não ter da felicidade

nem o desejo!

Poesia de Ana Setti Rosa

Referências arbóreas

Árvores perfiladas

Perfiladas ao longo do caminho,

pontuando com firmeza

a luminosidade ambiente,

deixam passar os brancos

enevoados, os cinzas

macerados, os verdes

e os ocres apenas insinuados.

São as árvores, referências

de estabilidade no mundo.

Poesia de Ana Setti Rosa

Vejo flores pela janela

Flores pela janela

Na cidade, asfalto, pedra,

carros, placa, verdes, muro,

tudo parece um pouco sujo

até que surge uma explosão

de cores rosas das flores

a cobrir tudo, como a pedir

desculpas pelos excessos

dos homens.

 

Poesia de Ana Setti Rosa